Doença do Refluxo Gastroesofágico.

O que é Refluxo Gastroesofágico?

É a volta do conteúdo do estômago ao esôfago, com ou sem exteriorização em forma de vômitos e/ou regurgitação. É uma manifestação fisiológica que ocorre em todos os indivíduos após se alimentarem.
O refluxo gastroesofágico é mais evidente em bebês, visto a frequência das mamadas, a postura quase sempre deitada, a distância pequena entre a boca e o estômago, facilitando a volta do leite ingerido e o baixo tônus muscular.
Regurgitação e vômitos pioram entre os 4 e 6 meses de vida e devem desaparecer com 1 ano de idade.

Doença Do Refluxo Gastroesofágico (Drge)

É quando a regurgitação e/ou vômitos causam complicações e sintomas, levando a morbidade e alteração da qualidade de vida.
Em lactentes, aparece com regurgitação e vômitos excessivos seguidos de dor, choro, recusa alimentar, irritabilidade, perda ou baixo ganho de peso, manobra de Sandifer (hiperextensão da cabeça e pescoço).
A doença do refluxo tende a diminuir com o tempo. No primeiro mês de vida, 25,5% apresentam a DRGE. Com 3 meses, cai para 7,7%, com 6 meses para 2,7% e com 1 ano de vida cai para 1,5%.
Nas crianças maiores e adolescentes que já conseguem falar e localizar a dor, se apresenta como azia, vômitos, náuseas, mau hálito, dor abdominal, dor epigástrica (acima do umbigo) etc. Podem apresentar erosão dentária, anemia sem causa definida, recusa alimentar, dificuldade para engolir, dor de garganta sem infecção aparente, queimação retroesternal, dor epigástrica.

Tratamento não farmacológico

Medidas posturais e comportamentais:

Crianças Abaixo De 1 Ano De Vida

  •  Dormir de barriga para cima, visto que o risco de morte súbita não compensa o deitar de lado esquerdo.
  •  Não deitar logo após as mamadas, aguardar pelo menos 20-30 min em pé ou inclinado (45 graus).
  •  Refeições fracionadas e em pequeno volume.
  •  Não usar fraldas e roupas muito apertadas.
  •  Tentar optar pela troca de fralda antes das mamadas.
  •  Não balançar muito o bebê depois das mamadas.
  •  Não apertar a barriga após as mamadas.
  •  Evite a superalimentação.
  •  Não alimente o bebê novamente depois que ele vomitar (espere até a próxima mamada).
  •  Verifique se você está usando mamadeiras de tamanho apropriado ou amamentando pelo tempo adequado.
  •  Se o seu bebê for alimentado com fórmula, engrosse a fórmula com espessante — será orientado na consulta.
  •  Mantenha o bebê na posição vertical por pelo menos 30 minutos após a mamada.
  •  Tente não deixar seu bebê passar muito tempo na cadeirinha (a posição do bebê na cadeirinha pode promover refluxo).
  •  Evite fraldas apertadas e com elástico.

Crianças Acima De 1 Ano

  • Dormir de barriga para baixo.
  • Não deitar logo após as refeições.
  • Refeições fracionadas e de pequeno volume.

Crianças Acima De 6 Anos, Adolescentes E Adultos:

  • Elevação da cabeceira da cama e deitar de lado esquerdo.
  • Adultos elevar a cabeceira 15-20 cm.
  • Refeições pouco volumosas, mais frequentes e com pouco líquido.
  • Comer devagar, mastigar bem os alimentos, ingestão de pouca quantidade e várias vezes ao dia.
  • Não deitar imediatamente após as refeições, aguardar pelo menos 2 h.
  • Evitar os alimentos que intensifiquem os sintomas de refluxo (aquilo que você percebe que desencadeia a dor ou que faz mal para você).
  • Orientação alimentar: alimentação normal, em horários regulares, evitando o uso abusivo de leite integral, chá preto, chá verde, café, refrigerantes, sucos cítricos, doces, chocolate,  menta, condimentos (maionese, catchup, mostarda), achocolatados, comidas apimentadas e alimentos gordurosos (bolacha recheada, wafer, mortadela, nuggets, salsicha, linguiça, manteiga, margarina, nata, creme de leite, batata frita, coxinha, risoles, bife à milanesa, empadão, pastel frito, Nutella, balas, bolo com cobertura e/ou recheio, chocolate, sorvete etc.).
  • Tente optar por alimentos assados ou cozidos e com menos quantidade de óleo ou gordura na composição.
  • Alimentos muito ricos em açúcar devem ser bem reduzidos da dieta como leite condensado, mel, suspiro, frutas em calda e glacês.
  • Lista de alimentos que relaxam o esfíncter esofageano inferior e devem ser evitados principalmente na crise aguda da doença e/ou se associados com os sintomas: repolho roxo, espinafre, linguiça, tomate, alimentos fermentados, alimentos em conserva, chocolate, morango, chá, cebola crua, menta, café, Coca-Cola, ameixa, queijos, laranja, abacate, abacaxi, frutas cítricas, feijão, cebola, amêndoas, framboesa, groselha, maçã, nectarina, noz, pepino, pimenta e refrigerante.
  • Bebidas carbonatadas: Estas podem aumentar a distensão gástrica e, consequentemente, o refluxo.
  • Alimentos picantes: Embora o mecanismo exato não seja claro, alimentos picantes podem induzir azia.
  • Em crianças maiores pode-se restringir apenas os alimentos que produzem sintomas.
  • Redução de peso em adultos e/ou crianças com sobrepeso ou obesas, pois a gordura abdominal aumenta a pressão sobre o estômago, favorecendo o retorno do ácido para o esôfago.
  • Evitar manobras que aumentem a pressão intra-abdominal: agachar, usar roupas e cintos apertados.
  • Evitar exercícios físicos após as refeições.
  • Evitar fumo passivo – os pais que fumam pioram o refluxo das crianças.

MEDICAMENTOS que pioram ou desencadeiam a doença do refluxo gastroesofágico:

  • Anti-inflamatórios não hormonais (AINHs): ibuprofeno (Alivium, Dalsy), diclofenaco de sódio (Cataflam), nimesulida, meloxicam, Celebra, Arcoxia, Scaflam
  • Ácido Acetilsalicílico (AAS)
  • Agentes quimioterápicos
  • Dexametasona (Decadron)
  • Ácido valpróico
  • Cloreto de potássio
  • Ferro
  • Sais de cálcio
  • Penicilinas
  • Cloranfenicol
  • Sulfonamidas
  • Tetraciclina
  • Cefalosporinas
  • Diazepam
  • Progesterona, etc.

Mudança de hábitos para Pais e Adultos

  • Evite fumar próximo ao seu filho. O cigarro invariavelmente diminui a proteção das mucosas do estômago.
  • Evite deitar ou fazer esforço com o estômago cheio.
  • Se estiver acima do peso ideal, perca peso.
  • Evitar roupas apertadas. Estar acima do peso ideal e usar roupas apertadas podem comprimir o estômago, facilitando o refluxo.
  • Evite alimentos que prejudicam a digestão e facilitam o refluxo: frituras, alimentos gordurosos, chocolates, condimentos fortes, excesso de alho, cebola e café.
  • Evite distender seu estômago. A digestão torna-se mais difícil e demorada, o que facilita a ocorrência de refluxo.
  • Eleve a cabeceira da cama, utilize um calço de 10 cm a 15 cm, principalmente se você costuma ter azia durante a noite. Não adianta tentar recorrer a travesseiros, pois é a cama que deve permanecer elevada.
  • Se quer mesmo evitar a DRGE, vale tudo o que foi dito e tudo mais que você mesmo perceber que não é bom para você. Afinal, cada um tem suas particularidades.
  • Coma mais vezes ao dia, mas sempre em pequenas quantidades. Não existem regras rígidas.
  • Algumas pessoas se satisfazem com três refeições diárias. Outras preferem dividir em mais vezes. O importante é não sobrecarregar o estômago, nem em quantidade e nem com alimentos que ele não consegue digerir bem.

Referência Bibliográfica:

World J Gastrointest Endosc. 2023 Mar 16; 15(3): 84–102.
Sociedade Brasileira de Pediatria.
GI kids.

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