Constipação.

O que é?

É a dificuldade e/ou dor na hora de fazer coco associado com a diminuição da frequência (menos de 3x /semana). Geralmente as fezes são grossas, endurecidas que podem entupir o vaso sanitário. Ou em cíbalos (tipo fezes de cabrito) nessa situação a frequência de evacuar pode ser diária. Em alguns casos pode ocorrer sangramento em torno das fezes causado por fissuras anais visto fezes muito ressecadas.

Incontinência Fecal: é definida como a passagem involuntária de fezes para a roupa íntima, seja de forma não intencional com infiltração de pequenas quantidades de fezes líquidas (geralmente referidas como “sujeira” e ou “vazamento”- selar a cueca) em uma criança com mais de 4 anos de idade ou em uma criança já treinada para usar o banheiro. Independentemente da quantidade de fezes, ela pode ser incontinência fecal retentiva e não retentiva. A Incontinência fecal retentiva ocorre em crianças constipadas com impactação fecal (fecaloma), enquanto o tipo não retentivo pode ser encontrado em crianças com problemas psicológicos.

Causas

90% são funcionais e 10% são orgânicas. Na constipação orgânica existe alguma malformação anatômica ou alguma doença que justifique o quadro. Em relação à constipação funcional seu mecanismo fisiopatológico pode ser multifatorial, incluindo comportamento de retenção de fezes, disfunções anorretais, dieta, atividade física, predisposição genética e problemas psicológicos.

Em crianças ela pode ocorrer na mudança da dieta ou rotina, erros no desfralde, após alguma doença, más experiências relacionadas a evacuação levam a um comportamento de retenção de fezes proposital ou subconsciente. Em alguns casos, elas podem reter as fezes para não evacuar em lugares diferentes que a sua casa, como no colégio, casa de amigos, shopping, etc.

Uma vez que ocorre a passagem de fezes endurecidas pelo reto, com dor, muito esforço e em alguns casos até sangramento causado por fissuras, a criança fica traumatizada, levando a retenção e/ou inibição da vontade de evacuar na próxima vez.

O comportamento de retenção de fezes é o principal mecanismo que ocorre em bebês e crianças pequenas. Em vez de relaxar o músculo do assoalho pélvico ao sentir vontade de defecar, as crianças defecarão em pé e contrairão o assoalho pélvico e os músculos glúteos, um fenômeno denominado “postura retentiva ou evacuação em posição de pé”.

Este comportamento promove a retenção de fezes no reto e faz com que as fezes tornem-se mais grossas e duras, dificultando bastante a evacuação, devido à absorção de água pelo reto. Essa dificuldade de evacuar leva a dilatação do reto desenvolvendo um mega reto com diminuição da sensibilidade para evacuar, isso acaba levando a incontinência fecal retentiva que faz com que a criança suje as roupas íntimas.

Com o acúmulo cada vez maior de fezes no reto e sua consequente distensão, as próximas evacuações serão também traumatizantes. Levando ao ciclo vicioso de medo – retenção – constipação – passagem de fezes grossas, ressecadas, com dor – medo – retenção …

O comportamento de retenção é caracterizado quando a criança tem a vontade de evacuar mas acaba inibindo-a com o cruzar das pernas e tensão na musculatura glútea evitando a saída das fezes. Isso acaba perpetuando o ciclo vicioso de dor e retenção, atrapalhando ainda mais o tratamento.

Quais são as consequências da constipação intestinal?

Se a constipação intestinal não for tratada adequadamente, a longo prazo, poderá evoluir e gerar novas e graves complicações para o organismo, como:

  • Diverticulose
  • Hemorróidas
  • Fissuras anais
  • Câncer do intestino

Como se trata?

Conforme o caso do paciente. Alguns só com a alteração na dieta e aumento de aporte de fibras e água, outros com laxantes para amolecer o bolo fecal.

Laxante

É importante no início do tratamento para não deixar acumular as fezes e conseguirmos quebrar o ciclo vicioso.

Treinamento intestinal?

Só para crianças que já tenham o controle dos esfíncteres (que já estão desfraldadas), geralmente após 4 anos. Fazer força de evacuar 2x/dia, durante 5 minutos, todos os dias após 15 a 30 min de uma grande refeição (café-da–manhã, almoço ou janta) ou quando vontade de evacuar.

Para realizar o treinamento intestinal a criança deve ter um local apropriado para evacuar conforme a faixa etária: troninho, adaptador no bacio, suporte para os pés (lixo do banheiro, livro grosso, tijolo, banquinho) quando no bacio a fim de realizar a prensa abdominal (ângulo entre o abdômen e as coxas que possibilita a realização de força para evacuar).

Colocar na rotina da criança

Adequada ingestão hídrica — a necessidade de água depende do peso e da idade de cada paciente:

  • 1-3 anos – 5-6 copos/dia
  • 4-8 anos – 7-8 copos/dia
  • 9-13 anos – meninos 10-11 copos/dia; meninas: 8-9 copos/dia
  • 14-18 anos – meninos 12-14 copos/dia; meninas: 9-10 copos/dia

 

Frutas ricas em fibras: ameixa, maçã (com casca), pêra, abacate, pêssego, melancia, laranja, figo, amora, abacaxi, morango, coco, manga, framboesa, uva passas, kiwi e mamão são excelentes opções.

Legumes e vegetais: cenoura, abóbora, brócolis e espinafre.

Leguminosas: feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha, milho.

Grãos integrais: arroz integral, linhaça e chia.

Farinha: fubá, farinha de mandioca, farelo de arroz, farelo de trigo.

A ingestão de fibras deve ser adequada para a faixa etária. A necessidade de fibras varia conforme a idade: acima de 2 anos – mínimo: idade + 5g; máximo: idade + 10g.

Excelentes fontes: linhaça, chia e biomassa de banana verde.

 

A criança com constipação intestinal funcional deve ser reeducada para novos hábitos que devem ser mantidos por toda a vida, ou seja, adotar um estilo de vida saudável, incluindo dieta rica em fibras alimentares, consumo de volumes apropriados de líquidos sem energia (água sim, refrigerantes e outros produtos com energia, não) e evitar o sedentarismo, implementando um programa de atividade física compatível com sua idade.

Fontes

Sociedade Brasileira de Pediatria.
World J Gastroenterol 2023 Feb 28;29(8):1261-1288. doi: 10.3748/wjg.v29.i8.1261.
Functional constipation in children: What physicians should know
Vídeo do site GiKids – orientação aos pais de crianças com problemas gastrointestinais, associada à NASPGHAN – North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition.

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